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A Crise Hídrica e a Pegada da Água
por Zelmute Marten*



Neste dia mundial da água, 22/3, a crise hídrica brasileira ganha atenção internacional, não apenas pela grave falta de água no estado de São Paulo, mas em razão de nosso modelo produtivo, que, desde a produção de alimentos como arroz e soja, até a industrialização, lança o desafio ao país de como deixar o modelo de utilização da água mais eficiente. 
O pesquisador da Universidade de Twente na Holanda, Arjen Hoekstra, elaborou o conceito de “pegada hídrica” ou “pegada da água”, segundo ele, o Brasil é o quinto país do mundo com maior exportação liquida de água virtual, incorporada no processo produtivo nacional.
Conforme o autor o conceito de pegada da água se demonstra na seguinte constatação, “a pegada da água mede a água potável utilizada para produzir determinado produto. É uma métrica que considera tanto o consumo como a poluição da água usada em toda a cadeia de produção. Calculamos o consumo pelo volume de água que evapora ou é incorporada em determinado produto”, explica Hoekstra.
Calcula-se o fluxo de água virtual do Brasil para a Europa, relativo às exportações de soja, por exemplo, com a multiplicação das toneladas exportadas pelo volume de água consumido ou poluído no Brasil a cada tonelada de soja produzida no país. O Brasil é um exportador líquido de água virtual. Isso significa que uma grande quantidade de recursos hídricos nacionais são consumidos e poluídos para produzir os itens de exportação.
No entendimento de Hoekstra, os países do Oriente Médio e Norte da África importam uma grande quantidade de alimentos e assim exteriorizam a sua pegada de água para outras partes do mundo. Países como China e Índia também estão exteriorizando rapidamente a sua necessidade por água. A Europa é um caso especial: embora o continente não seja muito seco, cerca de 40% da pegada de água dos consumidores europeus está fora da Europa. Isso ocorre geralmente porque as importações são mais baratas do que a necessidade de produção.
O Brasil é um dos principais fornecedores de commodities com uso intensivo de água. Isso cria boas oportunidades de exportação, mas também leva a uma pressão crescente sobre os recursos hídricos necessários para produção destas commodities para exportação. Também é utilizada água de outras partes do mundo para os produtos importados pelo Brasil. Mas a importação de água virtual é muito pequena em comparação às exportações. O Brasil ocupa o número cinco na lista de países com maior exportação líquida de água virtual, depois da Índia, Argentina, EUA e Austrália.
Esta problemática deixa reflexões necessárias e importantes aos gestores públicos, parlamentares, universidades, instituições de pesquisa, produtores e indústrias: é possível constituir um modelo com maior eficiência no uso da água? Há necessidade de elaboração de novas legislações em âmbito estadual ou nacional sobre esta temática? A utilização de agrotóxicos na produção primária pode ser eliminada para preservar as águas utilizadas nestas produções?
Estamos diante de um complexo conflito que exigirá mudanças culturais e de hábitos cotidianos da população. Estudos demonstram que a média de consumo diário de água pelos brasileiros é de 166 litros. Dos 7,2 bilhões de habitantes do planeta, 748 milhões não têm acesso a fontes de água potável. Com o veloz crescimento da população mundial calculado em 80 milhões de pessoas por ano, estima-se que, em pouco mais de uma década, 40% das reservas hídricas do mundo poderão diminuir, conforme relatório mundial da ONU sobre desenvolvimento de recursos hídricos 2015 - água para um mundo sustentável.
Estas são questões atuais e imprescindíveis de serem analisadas na perspectiva do Rio Grande do Sul e do Brasil alcançarem uma condição de maior equilíbrio na utilização de seus recursos hídricos. Tendo em vista a grave crise mundial que se avizinha, a Organização das Nações Unidas prevê que o abastecimento de água da população será um dos maiores desafios nos próximos anos.

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* Jornalista, Coordenador Estadual da Tendência Esquerda Democrática e Chefe de Gabinete do Deputado Estadual Zé Nunes


8 de Março: Dia de Reafirmar as Nossas Lutas e de Resistência Contra os Retrocessos
por Fabíola Rocha*

Mais um 8 de março permeado por diversas pautas e reivindicações. Temos inúmeros motivos para tomarmos às ruas. Por todos os direitos conquistados e principalmente, em tempos de Eduardo Cunha e da eleição do Congresso mais conservador da história, estamos vigilantes para que não haja nenhum retrocesso.
No Rio Grande do Sul, a cada dia somos surpreendidas(os) com alguma peripécia do Governador Sartori. Sob o pretexto de cortar gastos, extinguiu a Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres, que sempre foi uma demanda histórica do movimento feminista. Ainda seguimos na incerteza de como as políticas públicas garantidas pela SPM na gestão Tarso Genro poderão ser implementadas na atual conjuntura. Inicialmente, as demandas da Secretaria, passariam a ser geridas pelo Gabinete da Primeira-Dama, em uma atividade não remunerada. Diante da repercussão negativa diante de mais uma proposição machista do governador, foi instituída uma diretoria na Secretaria de Justiça e Direitos Humanos, que pressupõe a criação da SPM como um privilégio, já que estabeleceu que um departamento pode dar conta das políticas de gênero. Além de todo este contexto, é lançado nesta semana, o logotipo do Governo do Estado do Rio Grande do Sul:  “TODOS pelo Rio Grande”.
A marca sexista contraria a legislação estadual, aprovada na gestão Tarso Genro, que determina a utilização de linguagem inclusiva de gênero em documentos públicos e oficiais do Estado. Foi elaborado pela própria SPM, um Manual para uso não-sexista da linguagem, que oferece aos servidores e servidoras,orientações sobre a linguagem inclusiva a serutilizada nas publicações. Está nítido para as mulheres, que estamos alheias desse processo.
Entretanto não é só o RS que vem destilando seu machismo. Com toda essa onda de manifestações pró-impeachment da Presidenta Dilma, não são raros os comentários, matérias e piadas misóginas veiculadas nas redes sociais e nas mídias tradicionais. Dilma é frequentemente atacada pelas roupas que veste, e já foi acusada de ser uma ineficiente gestora por não ser casada com um homem.E pasmem, isso foi proferido em uma palestra pela jornalista da GloboNews Cristina Lôbo, em Recife. Ou seja, significa que para uma mulher ser uma gestora eficiente, ela precisa ter um homem que lhe dê “suporte”? Não há uma grande mulher sem um homem na retaguarda? Estas reproduções significam um profundo desrespeito que não atingem somente a Presidenta Dilma, mas a todas nós mulheres que sabemos muito bem o que constitui a inserção em uma realidade criada e pensada sob a ótica da dominação masculina.
Assim como todos os espaços públicos, a política é mais um ambiente construído e dominado pelos homens. À mulher, sempre coube a ocupação do espaço privado: o cuidado com os filhos, o marido e a lida da casa. Para boa parte de nossa sociedade conservadora, deve representar de fato, um grande disparate a ocupação da presidência da república por uma mulher. Ainda mais uma mulher de origem simples e que lutou bravamente contra o regime militar. Uma feminista.
Isso representa que se a luta pela garantia dos direitos das mulheres, já exibe muita resistência, a inserção dasmulheres na vida pública é ainda mais árdua. Temos que vencer os estereótipos, a divisão sexual do trabalho doméstico, que inviabiliza muitas mulheres a ocuparem estes espaços, a falta de investimentos das instituições partidárias e o cumprimento integral da legislação eleitoral, não somente exigir a participação feminina nos processos eletivos para o cumprimento da lei, mas criar condições para que as mulheres disputem os espaços políticos com outros homens em condições de igualdade.
Só há uma medida capaz de transformar os rumos da política brasileira e transformar este cenário:a Reforma Política. Não a reforma maquiada proposta pelos setores conservadores do Congresso, que preveem a institucionalização do financiamento privado de campanha, origem da corrupção. Queremos que seja garantida a participação da maioria da população brasileira, que são as mulheres. Para isso,é fundamental a aplicação do voto em lista, onde a ordem dos candidatos escolhidos pelos partidos, alterne entre homens e mulheres, garantindo a paridade. Também, é imprescindível a aprovação do financiamento público de campanha, para estabelecer a divisão igualitária dos valores arrecadados entre homens e mulheres, pois, atualmente o maior investimento vai para os candidatos homens. É preciso que a Reforma considere as políticas afirmativas e garanta condições para que as candidaturas femininas tenham êxito nas disputas, para que sua presença na política seja compatível às demais conquistas na sociedade e contemple a maioria populacional deste país.


“Afinal, se há uma parte da população do país que tem que participar da consolidação da democracia no país como reais protagonistas, essa parte somos nós, as mulheres: além de constituir mais da metade da população, somos mães da outra metade” – Eleonora Menicucci (Ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres).
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* Ativista do Movimento Feminista e Psicologa


Reforma Política e a Participação da Mulher
por Henrique Fontana*



A participação das mulheres na vida política do país melhora a qualidade das políticas públicas, aponta estudo do Banco Mundial. Com a Reforma Política que está em debate na sociedade e no Congresso Nacional faremos avançar essa participação.
A proposta de reforma do sistema político brasileiro que defendo estabelece cota mínima de participação feminina, mas acredito que os principais mecanismos para fazer avançar o espaço e a contribuição das mulheres são a adoção do voto em lista, o fim do financiamento empresarial de campanha e a fidelidade partidária. Estes são alguns aspectos da reforma indispensáveis para uma ampliação real da participação política das mulheres.
Estamos em meio  a ‘Campanha 16 dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra a Mulher’ que promove o debate e denuncia a violência contra as mulheres.  Infelizmente, relatório da Organização Mundial da Saúde aponta que uma em cada três mulheres é vítima de violência no mundo. Os autores afirmam que a violência só retrocede se os governos investem mais recursos nas políticas públicas e reconhecerem que ela prejudica o crescimento econômico.  Isso sem falar no processo civilizatório altamente prejudicado pela desigualdade de gênero.
A cada campanha devemos avançar e também comemorar o que conquistamos. O Governo Dilma investe em políticas de redução das desigualdades de gênero através da transversalidade das políticas para as mulheres nos ministérios e dos programas de transferência de renda. A Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República articula e executa essas ações. Também estão sendo construídas casas especializadas para atender mulheres em situação de violência em todos os estados brasileiros.
O Brasil é um dos poucos países da América Latina que conta com uma lei específica para coibir a violência contra a mulher, a Lei Maria da Penha. 
No RS, a criação da Secretaria de Políticas para as Mulheres  no governo Tarso Genro com ações como a Patrulha Maria  da Penha, reduziu em 32,4% os femicídios. Em 2013, foram contabilizados 74 mortes e em 2014 foram 50, até setembro.
Iniciativas desta natureza mostram o compromisso em preservar a vida e em construir um mundo mais igualitário.
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* Deputado Federal do PT-RS, líder do Governo Dilma na Câmara Federal


PUBLICADO ORIGINAL NO SITE: http://www.henriquefontana.com.br/henriquefontana/artigos/item?item_id=1787444

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